Com uma Forte pontada em minha cabeça despertei, ainda
Confuso e Cambaleante. Vivian ainda dormia tranquila e docemente. Lá fora o
Mundo parecia em Paz, enquanto que a minha, me fora Tirada... Arrancada por
Garras Dilacerantes. Violett que encolhia-se entre nós a procura de aconchego e proteção,
não mais se encontrava sob nossas ‘asa’. Não estava em nossa cama, e não estava
ao redor... Chamei por ela olhando ao redor e não obtive resposta, ainda com a
Visão turva e difusa e a cabeça pulsando, levantei-me cambaleante. Chamei por
Violett mais uma, duas vezes e com a voz mais alta, meus chamados acabaram por
acordar minha Amada, que prontamente pôs-se em pé sob um Espírito de Pânico.
Sentimento que crescia descontrolado dentro de mim.
Uma
gélida Brisa soprou um Aroma de folhas e petrichor, me apontando para um feixe
de Luz que entrava pelo alçapão Aberto, por onde minha Pequenina teria saído ou
sido levada.
Em meu
Espírito era travada uma Brutal Batalha a não deixar-me ser tomado pelo Pânico
ou qualquer Pensamento que pudesse agir a atrair o Pior. Minha Calma Forçada
mantinha, Também, Vivian sob Controle. Juntos subimos à cozinha, juntos
chamávamos por nossa Princesa, Clamando por uma Resposta e Juntos invocávamos
Todo o Nosso Amor. Procuramos por toda a casa... E não a encontramos. Com mil e
um pensamentos e possibilidades em mente voltamos dos quartos para o primeiro
nível, onde, olhando-nos profundamente nos olhos inflamados por um choro
contido, nos meus havia Dor, Pânico, nos de Viviam Desespero. Abri meus braços
em Amparo, mal os havia estendido e
vacilei sobre o mesmo ponto quando Vivian chocou-se contra meu peito, em um
abraço Profundo, comprimindo-me não somente a carne, mas, também o espírito.
Seu choro rasgara-me a Alma. Tudo era quieto, uma Calmaria pesada e Infernal
que nos Roubava a Paz em meio ao nosso Desespero... Ouvimos o barulho de folhas
que rolavam pelo chão, vindas da porta arrombada pelo Vendaval, prontamente
entendemos o que aquilo significava, Violett poderia estar perdida no bosque e correndo
Grande Perigo.
Engolindo
o choro e retomando as Forças e o Controle, Vivian pôs-se a correr em direção
ao Bosque. Ao primeiro passo fora de casa o Sol Forte quase me cegara. O Céu
era Nublado, mas, não Nebuloso, a Terra era Fofa e marcada pelos nossos passos.
-Violett!
Filha!!! –Gritávamos para todos os lados, sem saber ao certo em que direção
seguir.
Olhei
ao redor e tudo era o Caos, nossa casa não havia sido revirada somente por
dentro, mas, fora atingida por grandes galhos de arvore e em parte destelhada.
A horta fora destruída, revirada; havia penas espalhadas onde o Temporal pôs
abaixo o galinheiro; não se ouvia os porcos, de certo, mortos ou fugidos, nossa
mula deveria estar a léguas de distancia. Mas, minha Atenção não era para Nada
Material e Sim para algo Único.
Vivian
estava em um Silencio Profundo olhando fixamente para o Bosque, varrendo cada
centímetro com os olhos, girando sobre os calcanhares, era toda Atenção, posso
afirmar que seus ouvidos poderiam auscultar até o menor dos insetos arrastar-se
pela terra fofa e encharcada. Fechando os olhos, parecia Evocar algum Poder
Materno. Despertando Repentinamente de sua oração, com Espanto nos olhos e um
Sussurro nos lábios –Violett - Rompeu em disparada Bosque a dentro, rumo a
Noroeste.... Seu Sussurro tornou-se um Clamor e por fim em Gritos.
-Violett!
Minha Filha!!! Mamãe esta chegando, papai esta aqui.
Em
Silencio eu Clamava ao Pai, para que estivesse ao lado de Violett, não houve
resposta alguma, senão, um Calor que atravessou-me o peito e espalhou-se por
todo o meu Corpo...
Enquanto
corria Bosque a dentro, ignorava ervas e espinheiros e “ramo-secos rasteiros”
*. Aos tropeços Vivian avançava ‘cega’, eu a seguia passos atrás, para ter um
campo de visão amplo, de toda a situação, enxergando o mais longe possível. –
“AAAALI, AAAALI”. – Guinchou uma Águia, que acima das copas cruzou sobre nós
apontando o caminho logo à frente. Meu corpo Estremeceu, novamente aquele Calor
percorreu-me, fazendo-me sentir um formigamento que se espalhou dos pés a cabeça,
dando-me tempo para uma Postura Rígida e Firme quando por fim, alcancei Vivian
e segurei-a pelo braço.
-Vivian
fique Calma!. – Clamei. Ela avançou ainda por cinco passos, até que percebera a
Intenção de meu Clamor. Calmamente aproximei-me
por trás dela, segurando gentilmente seus braços e sussurrando-lhe ao pé
do ouvido, pedi-lhe calma.- Tudo ficará Bem! – Prometi-lhe beijando-a
ternamente próximo ao pescoço, e comprimindo-lhe os braços em um incentivo a
ser Forte. Deixei-a onde estava e avancei lentamente, parando para pegar, ao
chão, uma fita de laço , enlameada, que Violett usava nos cabelos, a todo o
momento, mantive meus olhos mais a frente, para o que havia mais adiante. Algo
jazia morto, aos retalhos numa explosão de sangue e vísceras.
-Rafael!!!
-Gritou Vivian com voz Tremula. Sem olhar para ela, fiz um gesto para que
mantivesse a calma.
- É apenas
um dos porcos. Violett esta bem, olhe lá adiante.
Mais um, dois, cinco, dez
passos e parei com os olhos fixos em Violett a cinco metros de mim.
-Violett!?
Querida, é o papai. –minha pequenina estava de costas para mim, agachada junto
ao que parecia ser outro animal morto.
-Querida,
você esta Bem?
Ela
virou-se para mim, estava toda desarrumada, salpicada de lama e com Sangue
pelas mãos, pela roupa, também rosto e cabelos.
-Violett!!!
–Gritou Vivian avançando a passos largos, quando cruzava por mim segurei-lhe
firmemente, ficou sem reação.- Solte-me! Minha Filha... Sua princesinha... –
Ela esta bem. – Eu disse, pois, a pequenina tinha um Lindo Brilho de Inocência
no olhar e um Largo Sorriso.
-
Minha Filha!.- Argumentou Vivian tentando desvencilhar de mim
-
Calma! Olhe! -Contra argumentei. – Fique Calma, Quieta! – Ordenei .
Ao meu
comando, Viviam parecia não me reconhecer, pois, jamais usara com ela o tom Rude
e Autoritário que se fizera necessário
naquele momento.
A
figura aos pés de Violett visivelmente era uma filhote de lobo, avaliando pelo
tamanho, quase adulto.
-
Filha, esta tudo bem? Esta machucada? – Questionei-a de forma Suave e Confiante
enquanto Lenta e Calmamente avançávamos, Vivian e eu.
- O
que você esta fazendo Rafael? Pegue-a Logo, Amor... Meu Amado!
-Amanda
minha, é um filhote de Lobo, aparentemente morto. Se assim o for, melhor,
senão... Os Lobos jamais abandonam a Família, uma Matilha é Sempre Leal. Vamos
com Calma.- Pé por pé nos aproximamos.
-Vem
papai. Ela tá machucada.
Aquela
Calmaria e falsa Paz que Pesara sobre nós era um Tormento, revirava-me o
estomago. Deixei que Viviam seguisse a frente. Logo abriu os braços e Violett
correu ao seu encontro, para os Braços e Abraços de uma Mãe Zelosa.
-Te
Amo mamãe vamos cuidar dela, né? Ela é minha Amiga e eu gosto dela.
O
animal respirava com dificuldade, tinha uma dilaceração sobre as costelas.
Abracei e beijei a ambas, Vivian e Violett; que também era beijada por minha
Amada, ao passo que percorria com as mãos todo o corpo da pequenina a procura
de ferimentos.
-Você
esta bem , minha Filha. Agora esta a Salvo, com a mamãe e o papai. Esta Segura.
-
Vamos voltar, não é seguro que continuemos por aqui. –Sugeri. Assim que demos
os primeiros passos a lobinha pôs-se a chorar e quanto mais nos distanciávamos,
mais alto ela chorava. Violett também estava inquieta.
-Não,
papai. Não! Ajuda ela.
-
Acalme-se minha filha.- Apelava Vivian
A
inquietude de nossa pequenina fez com que se desvencilhasse de Vivian, pondo-se
de encontro a moribunda criatura, que parecia reconhecer e reagir positivamente
ao toque de Violett. Acalmando-se.
-Amor,
Rafa! Não podemos deixa-la solta. Venha Violett, - dizia enquanto puxava
Violett pela mão, esta por sua vez negava-se relutantemente em prosseguir
conosco, distanciando-se a loba chorava.
-Espere
Vivian! Escute meu Amor. Temos que evitar mais e maiores traumas e estresse à
Violett. A Matilha deve estar por perto e, voltando ou não, seria Cruel demais
deixar a loba aqui, sem cuidado algum. Estando conosco, e ainda regressando ou
não a Matilha, representará uma maior Segurança a nossa Família. Com alguma
certeza posso lhe afirmar que as aldeias visinhas sofreram muito com a tempestade, estamos desprotegidos com nossa
casa arrasada, e com muito pouco para saque ou escambo. Levemos ela conosco.
-Você
esta louco??? É um lobo.
-Sim,
eu sei. Ainda é um filhote, esta ferida
e sem matilha, além disto parece gostar de Violett... Ela irá conosco ao
menos, enquanto estiver Saudável estaremos livres da matilha (...) e quem sabe
de possíveis saqueadores solitários... Então, que seja somente até que possa se
virar sozinha.
- Você
é um grande cabeça dura teimoso, mas, Confio em você.
Assim,
com Viviam carregando Violett em seus braços e eu a pequena fera, voltamos para
casa seguindo por uma pequena trilha, evitando os espinheiros, pois, passada a
Tensão e Adrenalina os arranhões começavam a arder.
-Bem,
é hora de trabalhar. – Disse Vivian mais calma, ainda que, escondendo por trás
de um meio sorriso a Dor pelos estragos e Susto vivido. – Mãos à obra. – Vivian
estava mais calma.
- Não!
Você não... Eu sim. Leve Violett para o abrigo, fique com ela e descansem. Já
se passou a manha, não há muito o que se possa fazer agora, logo a Noite Cairá.
Vou juntar o entulho, escombros e Selar portas e janelas. Hoje, o trabalho é
todo meu, pois, amanhã deveremos ir até a cidade para negócios e sondar os acontecimentos...
Não é seguro que fiquem sozinhas por aqui. O melhor é que estejamos Juntos.
Havíamos
perdido praticamente tudo... Nossa horta, animeis, a lenha estava molha,
celeiro posto a baixo e casa revirada e parcialmente destelhada. Mas, estávamos
bem e ainda tínhamos nosso armazenamento. Dei inicio ao trabalho com grande
pesar por ver a tudo arruinado, nosso Templo de Paz e Conforto fora posto ao
chão, mas nosso Espírito de Unidade e Fé, permanecia Inabalável. Veio a noite e
reuni-me com minhas Amadas, que já haviam se banhado e preparado uma simples
refeição com a lenha que mantínhamos em casa. A casa já estava com portas e
janelas seladas, tudo as escuras, para não chamar muita atenção. Para nos
aquecermos ascendemos as lâmpadas a óleo junto a nós no abrigo. Nossa estranha
hospede fora acomodada na cozinha próxima a entrada do nosso abrigo, aquecida
pelo calor de nosso fogão. Mais tarde após nossa refeição permitimos que
Violett alimentasse a pequena fera com
lebres de caça. Difícil poder afirmar, mas parecia que Violett possuía um
Grande Espírito de Cura, o que fizera
com que a Lobinha se habituasse rapidamente aos cuidados e carinhos de nossa
Princesa.
Naqueles
primeiros dias tratamos de reorganizar a casa, reforçar portas e janelas, e
assim passaram-se três dias completos.