sexta-feira, 29 de junho de 2012

'''-Sussurros ao Vento 2ª Parte-'''




Aquela tarde passou Tranquila, Suave, e a Noite veio Sorrateira e Pesada. Confesso que inebriados em Êxtase e Alegria, a passagem do Tempo nos foi Desprezível, como se fossemos Criaturas Atemporais... Para as quais o Decorrer das Horas Nada Significa. Seres capazes de Desfrutar de Profundos Sentimentos e Prazeres... Sutis... Sublimes.
            A Chuva nos dera uma Trégua e o Vento aquietara-se, porém, uma Massa Fria descia de forma Calma e Gentil.
            O Delicioso Jantar preparado por Vivian caiu-nos agradavelmente ao estomago, fora Simples, mas, de Refinado Paladar. Recolhemo-nos à beira da Lareira, sentados ao chão, conversando e ouvindo historinhas contadas por Violett, pequenos contos sobre coelhinhos, pássaros e lobos que brincavam, tomavam chá e dançavam juntos, sendo gentis uns com os outros e a tudo sendo gratos.
            Mesmo para Violett, o sono chegara tarde. O cansaço abatera-se sobre ela Pesadamente, tamanhas estripulias realizadas por nós em meio a Chuva e Vento. Entre contos e historinhas a voz de minha Pequena, fora murchando e desaparecendo, e sua cabeça que repousava em meu colo pesara. Fora acometida pelo Sono. Vivian Sorria para mim, enquanto beijava-me suavemente sobre os lábios, dissera-me, então, para deitar Violett em sua cama, para que assim, juntos, pudéssemos Contemplar o Céu Estrelado e a Noite Fria.
            Gentilmente tomei Violett em meus braços... Seu Sono era Profundo e seu Semblante Leve, ela respirava suavemente. Seus lábios traçavam o desenho de um Sorriso de traços finos. Vivian envolveu-nos em um manto para que o Frio não perturbasse o descanso da Pequenina.
            Pé por pé, caminhei até à beira da escada que levava aos quartos superiores... Cruzando a sala, olhei pela janela a Contemplar a noite lá fora, mas só havia o Breu que parecia travar uma Batalha com o Archote à beira de nossa casa. E sua Luz oscilava ante as Investidas da Escuridão a sua volta. A Tocha em Chamas Vivas Sangrava tremeluzente, ao passo que Rasgava a Escuridão em Sombras Lúgrubes. A clareira ao redor de nossa casa era tomada pelo Breu Denso, e o Silencio Pesado, pois somente as chamas da tocha eram visíveis, nem mesmo o bosque a 100 pés de distancia era possível distinguir... A luz jazia, como que um moribundo Sentinela em defesa de nosso lar, prestes a Sucumbir diante de um Inimigo Sorrateiro. O único som que chegava aos meus ouvidos, vindo de fora, era o farfalhar de folhas secas, e ao longe, um Lobo uivante. Toda esta encenação roubou-me a Atenção...
Um profundo Suspiro de Violett veio a Libertar-me de toda Aquela Magia Hipnótica, seu Sono era Profundo, era Tranquilo, era Pesado. Ela remexia-se em meus braços buscando melhor conforto. Lentamente subi a escada rumo ao seu quarto, sem falhar um único degrau, prolongando ao Maximo sua estadia em meus braços.
Já em seu quarto, repousei-a sobre a cama de palha e plumas, e a cobri até o pescoço com uma Bela colcha de retalhos coloridos, feita por minhas duas e Únicas Preciosidades por sobre Toda esta Terra.

-Ela ainda dorme?! – Sussurrou Vivian da porta
-Sim! E dorme como uma princesa dos contos. Linda como de certo você também o fora. Tenho certeza de que você era igualzinha, na idade dela. –respondi-lhe enquanto aproximava-se. Chegando até nós, Vivian acariciou-me os cabelos, e beijando ternamente Violett, disse-me:

-Não recordo-me muito de mim mesma, ou como era. Confesso. Embora eu possivelmente tivesse, sim, a mesma Imagem de Violett, ao certo não desfrutava da mesma Pureza e Inocência... Não, não de uma forma luxuriosa ou Vulgar, mas, frutos de Pais Humildes e de Família Pobre, meus Irmãos e eu desde muito cedo tínhamos de trabalhar ou ajudar na lida de casa. Allan e Patrick, meus Irmãos mais velhos ajudavam nosso Pai na criação de porcos e cabras e no campo. Susie e eu, ajudávamos nossa mãe com as galinhas, em casa, e na venda de nossos produtos. Não pode-se dizer que tenha há muito a recordar de mim, ou de como fora minha infância, mesmo assim, minha infância correu aos meus olhos... e você meu Amor? Como você chegou aqui, você também passou por... – Um Nascimento e Infância? – Interrompi-a poupando-lhe de algum constrangimento diante de si.

-Para que pudéssemos vir a Herdar as Terras de Nossa Possessão, meus Amados Irmãos e eu. Tivemos também de passar por um processo de “Nascimento e Crescimento”. O Primeiro, diferente daquilo que você esta acostumada a ver, digamos que fomos concebidos infantes, crescemos como crianças, ditas normais, não fosse pela nossa Consciência de Natureza, claro que ainda tudo dentro de uma “Óptica adequada a um ser pequenino” que carece aprender sobre a Vida sob a Carne. Ademais, hoje, muito permanece oculto sob uma Névoa de muitos Anos que se passaram desde então. Sei que tive horas de brincadeira, mas, fora treinado para Liderar e Subjugar.

Vivian parecia ouvir-me com certa familiaridade com minha Vida e História, porém, sua expressão era de total Fascínio. Permanecera por um longo tempo, sentada aos pés da cama segurando-me a mão, enquanto que com a outra acariciava Violett. Eu, sentado ao lado da cama em uma cadeira de escrivaninha em nada pensava.

-Ela dorme tranquilamente, vamos para a cama?- Vivian levantara-se e pela mão puxava-me, para que com ela, fossemos para nosso quarto.

-Desculpe-me meu Bem, mas, quero ficar com ela nesta noite... Dorme tão bem, que gostaria de permanecer ao seu lado zelando pelo seu sono.

-Tudo bem, mas, não se demore e certifique-se de que a janela esta bem trancada. Esta “Calmaria”, dos Ventos nesta Época do Ano não é normal, é possível que uma grande Tempestade nos pegue de surpresa.

-Sim meu bem, você tem razão. Cuidarei de tudo.

            E Realmente tinha toda a Razão, também por mim o “Tempo parado” fizera percorrer a sensação de que uma tempestade poderia se formar. Dirigi-me até a janela entreaberta e fitei aos céus, como que um Negro Manto Salpicado de Estrelas... Limpo. O Ar, parado... Ainda ouvia-se as arvores a serem alvoroçadas por aves e outros animais de habito noturno... Em uma arvore próxima uma Coruja emitia um Gorjeio longo e arrastado, em algum lugar acima, uma Águia Guinchava parecendo querer assustar suas presas, para poder cair sobre elas em perseguição. Agora, mais Lobos juntavam-se ao primeiro em um Coro Uivante. Fechei a janela do quarto e voltei a sentar-me à beira da cama, ali permanecendo a contemplar a beleza de Violett, enquanto dormia e suspirava. Talvez tenha sido o primeiro momento de descanso a minha mente, que até ali, estivera absorta em pensamentos, alguns agourentos, outros, aterrorizantes, como a ideia de ter de deixá-las. Violett parecia possuir o poder de Curar-me das Dores e Doenças de minha Alma Flagelada e Espírito Antigo e sobrecarregado. Ali com ela, em nada mais pensava.
Tamanho era meu conforto que vacilei por umas três ou quatro vezes, deixando minha cabeça pender, e acordando sob susto, algo não estava certo... Violett continuava a dormir, aproximei-me, e cauteloso beijei-a sobre a fronte, parecia estar bem. –preciso descansar- disse a mim mesmo forçando-me a aceitar a ideia de que “todo” meu pressentimento não passava de pura impressão.
Acomodei-me novamente em minha cadeira, que agora deixara-me com dores, pela posição desconfortável. Rindo de mim mesmo pela minha paranoia, preparava-me para me levantar e deitar-me junto de Vivian, quando a janela parecera “explodir” sob um grande estrondo, empurrada por uma forte rajada de vento, diferente de todo o Vento “Natural”. Este, possuía uma densidade anormal, quase que tateável, percorrera a todo o quarto sem nada derrubar, sequer fizera com que a lamparina titubeasse. Invadira o Ambiente com Força e Rapidez, quando parecia ter percorrido todo e cada espaço a nossa volta acalmara-se fazendo de sua chegada “desesperada”. Eu, parecia ter sido pego em um abraço sufocante, “aquilo” parecia vivo, pulsando Rítmico, não como um coração a bater, mas, como uma Sinfonia Regida pela própria Vida. Toda aquela anormalidade de certa forma me era familiar... No fundo, sabia que não deveria lutar contra aquilo, aquietei meus pensamentos, relaxei os músculos, clareei a mente e abri o coração, “trazendo a superfície” meu Espírito Imortal, o “Vento” remexia-se inquieto, fazendo uma leve pressão gelada sobre meu rosto, parecendo acariciar-me... Aquietou-se e então uma voz me falou?

“-Arcanjo... Rafael...
 Ouça Rafael, aquele que é Chamado Arcanjo. O Anjo Redimido com a Marca da Anistia... A mesma da queda, a mesma da ascensão...” – Sussurrava o vento aos meus ouvidos

-Confesso de Todo o meu Coração que temia por Violett e que grande era o meu desejo de abrir os olhos e virar-me a encarar o estranho invasor, mas em meu peito era sabido que se assim o fizesse, o Ousado Visitante Partiria. Por ter chego tão longe, em invadir minha casa, e pelo tanto que sabia a meu respeito, não me parecia desejar causar-nos dano... Como Poderia conhecer a mim de tal forma, que somente meus Irmãos Amados e as Altas Esferas Celeste poderiam conhecer... Minha Historia jamais fora contada, agora, me interessava por sua mensagem, transmitida por uma voz perdida sob vento, voz sem forma, sem gênero.

“-Arcanjo... Fortes Tempestades trazem Grande Destruição, Muita Mudança. O Sol Arde, mas Grandes Nuvens Ofuscam seu Brilho, Ocultam seu Poder, Dispersam sua Força. A Criatura Criadora Morde a Mão que o Alimento, Distorce, Deturpa, Corrompe, Se Corrompe.”

Muita coisa me ocorria a mente enquanto ouvia. turbilhões de imagens percorriam minha mente...Guerra, Morte, Massacre. Destruição, Caos e Opressão. Inúmeras questões vieram-me a mente e projetaram-se para minha boca, mas, quando fui proferi-las houve apenas mais um Sussurro.

“- Vá!... Vá Arcanjo!, Erga Teu Escudo e Empunhe Tua Espada... Reclame tua Herança... Alianças... Honra... Segue Seguido... Irmãos... Família... Partam...”

Tão Rápido como entrou, aquela distinta presença partiu. E quando saiu, foi como se eu tivesse emergida de Águas Profundas, buscando Fôlego e Sentindo um Frio de Morte... Com grande estardalhaço partira, porém, de forma cuidadosa, nada levando, mas, deixando sobre o peitoril da janela Uma Flor de Sangue ( Bela e Formosa como uma Rosa Selvagem, esta porém, faz escorrer de suas folhas um fino “Orvalho Carmesim”, para proteção da planta, Sonífero para alguns... Mortal para outros).
A Flor de Sangue sobre o peitoril da janela trazia consigo uma Mensagem e um Mistério... Aviso ou Ameaça... Amigo ou Inimigo. De certo, o Agente causador de tal fenômeno muito sabe a meu respeito, de minha Historia, de meu Passado e de meus Convênios, Dádivas e Maldiçoes... Violett ainda dormia, fazendo parecer do visitante um amigo trazendo uma mensagem de Alerta, e não um intruso causador de Caos.
Um Estrondo e um Forte Clarão fizeram estremecer a casa e iluminaram a tudo lá fora. E uma refrescante brisa soprou sobre nós, trazendo o frescor de uma chuva ruidosa, mas, bem vinda... Agora, parecia que a matilha lá fora, estava mais próxima e sobre ataque a uma presa... Uivos, rosnados e sons de luta se ouvia. Tomei Violett em meus braços novamente e a repousei em minha cama, para não assustá-la, dormiria entre mim e Vivian. Chegava uma Tempestade.



Um comentário:

  1. A história teve um pico eletrizante! Gostei bastante da descrição do archote iluminando a noite, o breu parecia crescer tentando apagar o fogo. Essa presença que deixou a rosa...humm que intrigante...conte logo o que vai acontecer no próximo capítulo, estou curiosa! De todas as partes que já escreveu, essa foi a mais bem escrita pra mim, evoluiu não só a história, mas também a linguagem rebuscada, parabéns!

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